terça-feira, 16 de novembro de 2010

Paradoxo

Como se eu fosse o ser mais utópico na escuridão do bar, desviei do garçom e me apoiei no veludo da parede. Lindos adornos florais prateados num fundo verde musgo. Eu via a cada flash. tinha gente que não parava de rir e riso que não parava de ecoar e eco que não parava de me rodear. Fui até o setor dos detonados, o banheiro.
Santo laboratório dos amantes cordiais que precisam refletir entre um fora e outro. Ali você se renova e se despede, ou vomita e cai no vaso.
Olhei pro espelho e vi o espantalho. Olhei para o lado e vi o sorriso oculto de um companheiro que havia muito, não curtia mais as baladas.

De volta ao som, de volta ao escuro, perdi de vista o amigo, de novo, para encontra-lo um outro dia, num outro buteco qualquer.
Já era hora de ir, antes de encontrar aqueles olhos felinos que me iriam suprimir.
E lá estava ela, como mil vezes antes, encostada na escada, com batom vermelho e cabelo grudado na testa de tanto dançar. Lá estava ela me olhando fixamente, sabendo que eu não podia ir até ela, seria entregar as cartas antes do jogo começar.

Ela sentiu meu peso no olhar, e a luta começou.
Passei por uma e lhe falei asneiras ao ouvido. Riu, ponto pra mim.
Ela passou por um e jogou um olhar matador. Ganhou cinco minutos de papo e beijou o cara. Me passou.
Impedi que outra passasse por mim, e olhando pra ela, implorei um beijo em nome da beleza alheia. "Sai fora" é o que ganhei.
Ela seguiu seu caminho dançante, um Yeah Yeah Yeahs o tempo todo, dançando com alguém.
Ofereci uma dose a uma dama, ela aceitou a dose, mas não o obsoleto.
Olhei de relançe e ela estava abraçada em mais alguém. amigo? Não, outro perdido na noite.
Noite dura. Virei duas doses e cantei outra no balcão. Rolou, não rolou, rolou? Ela pediu pra eu encontra-la lá fora. Vitória minha, xeque-mate.

Ela reparou e não pôde ficar mais consternada. Sairia dali sem me ganhar, sem me seduzir e destruir. Se lançou em outro e outro, e ainda outro, enquanto eu saía. Seu rei caiu, querida. E saí.

Ok, sabemos do que é feita a noite: acasos. Fumei um maço encostado na maldita porta do bar, e a rainha do baile não apareceu. Seria praga, a praga dela?
Se voltar já não valia mais a pena, resolvi ir a pé embora.

Perto de um carro, ela... sempre ela, pedindo espaço pra desabafar e dormir.
"Hoje você não é minha"
Ela ri, e é muito cara.
"Vem, dorme comigo"
É, ela deve ter mesmo alguma coisa.

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