sábado, 15 de novembro de 2008

O Último Cigarro em Brasas

Foi-se o tempo em que eu gostava de alguém. "Foda-se", eu disse a mim mesmo, enquanto tomava cerveja sozinho numa mesa de um bar que cheirava à carne frita na manteiga. Eu não gostava da cozinhar, mas adorava o cheiro de comida. E sentia agora só a fumaça do ultimo cigarro em brasa posto à minha mão.

Mentira, não foi posto esse cigarro. Eu lutei por ele. Era o ultimo mesmo, de uma ultima noite no ultimo bar aberto. Nada de belas mulheres passando na calçada pra embeleza uma noite sme espíritos. De alguma forma, perdi o encanto com as mulheres. Das ultimas com quem saí, apenas uma chamouminha atenção, e ainda assim, não foi por extraordinária inteligência, mas porque fazia carícias diferentes das demais em mim. De qualquer forma, eu olhava mais para o relógio do que para o corpo da menina, a pobre coitada.

De uns meses pra cá, caí em contradição com minhas convicções. Achei que dizer "amar" era dizer "sincero", mas então, porque será que eu digo "amo" a qualquer forma feminina nua à minha frente? Outro, dia, e é engraçado me lembrar disso assim, mas não me restam muitos assuntos; encontrei com um garoto que me chamou de pai. Devia estar perdido, ou esperando a mãe na frente do mercado, e eu, mais uma vez olhando pro relógio, não consegui simpatizar com o menininho, e lhe mandei pros infernos no momento em que pude. O danado choramingou outro "pai", e eu disse, "o que é moleque, sou velho pra ser seu pai"! O menino calou, e foi a vez da mãe, que chegava agora, abraça-lo e chorar "pai".

Não sou o pai.

Sabe, nessas horas eu gosto de olhar no relógio, que sempre dita o tempo e me lembra a maravilhosa educação que mamãe me deu. Eu me sinto superior em qualquer ambiente, principalmente fumando um desses cigarrinhos vagabundos de buteco. Isso mostra que sou tão superior, que gosto de ficar rodeado de pessoas tolas, que se acham interessantes, só pra dizer "estou com vocês". Nunca ajudei ninguém, afinal não creio que as pessoas façam gentilezas de graça, e como não quero ter que cobrar qualquer infeliz, eu não ajudo.

Este cigarro me queima os dedos. Meu pai, grande homem, era mal resolvido quanto às questões familiares. Tanto era que m dia fugiu com a empregada, e mamãse me disse que todo dia eles dormiam juntos. Eu espiei, e vi meu pai fazendo coisas que eu considerava impossíveis.

Sabe, falo disso, porque na verdade, me acho umtremendo filho da puta, uma pessoa de má índole, bêbada e tragando um cigarro que pode ser considerado o último, afinal, esta tarde, um médico todo pomposo parecia se gabar de me contar que havia câncer em meus pulmões.

De fato, não fui muito justo e devo estar pagando agora os pecados que outrora cometi sem hesitar. Mas quero que tudo queime no inferno depois que eu me for. Afinal, são tantas festas de que fui erxpulso, tantas mulheres de uem abusei, e ainda dizem pra bastardinhos que sou o pai.
por favor, acerta o que devo, hora de ir embora.

Este homem que vos fala não chegou em casa naquela noite, pois foi seduzido por uma mulher fatal, que após lhe oferecer prazeres desconhecidos da carne, indignou-se ao ouvi-lo dizer que ela era puta. Como ele é que era puto, ela tirou da bolsa um alicate e o enfiou na garganta do homem. Talvez ele tenha levado umas duas horas pra se encerrar no chão, de fato. Mas ainda assim, chamava a mulher de vagabunda.

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