quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sobre Sonhos e Incêndios

Tenho tanta pressa de viver
que não sei pra onde ir
e não saio do lugar,
preso a tantas outras ideias,
de escrever e ilustrar ideias,
e não me canso de contemplá-las.
Não paro de sonhá-las.

Sou meu chefe liberalista,
sou e melhor e também sou o mais libertino!
Sou o imprevisto, o líder da revolução.
O modelo a ser seguido,
a referência de meu campo de estudos...
mas sou tudo isso,
enquanto, calmo, suspiro,
cinco minutos antes de finalmente adormecer.

Tenho tanto, esnobo tantos.
Sou solícito com tantos outros
e não vejo ninguém ao redor.
Tudo se passa no espelho, em outros lugares.
Com outras pessoas.

Então, por Deus, ou qualquer um que se disponha:
Por que não sou eu a realizar os sonhos?
Por que tantos, com tão menos, como tantos mais?
Por que vão mais longe? Por que são vistos tão mais de longe?
São pequenos como eu sou, mas estão tão mais perto do sol
que suas sombras se projetam, imensas,
cruzam por mim, cuja sombra está colada nos pés.

Meu sol é de dias nublados.
Ou será que sou das noites e do frio?
Será que sou eu o eterno aborto?
Serão meus sonhos e ideias drenados,
ejaculados por terceiros
no momento sórdido em que fodem
instituições e editoriais
enquanto minha masturbação nunca tem um fim?

Eu sou infeliz, por natureza
é este o fato, e o fardo.
Tão mal resolvido em minhas formas
que prefiro tecer em outros
os bordados tão belos que sonhei pra mim.

Serei eu o último passageiro
em uma locomotiva de fracassados,
de quem os fracassados caçoam
porque nem sou fracassado,
nunca meti os pés pra fora de casa,
não tentei nada, nem fracassar!

A vida e os ventos me moldaram num tolo
e se de certo consolo me serve,
também sei rir de mim mesmo as vezes
geralmente aquelas em que cansei de chorar.

Mas se um dia
me desfizer destes trapos,
se, como um pequeno pássaro
me jogar de um abismo para renascer
como um falcão imponente e veloz,
serei tempestades!
Serei incêndios!
Serei raios que iluminam por segundos os corações tristes!
Serei o fogo que consumirá as cabanas dos desavisados!
Serei eu a natureza cruel e impetuosa, viva, forte e disforme de fato,
sugando de tudo e vomitando de volta o meu melhor!
Serei o próprio pincel com que Deus faz sua criação eterna!
Sim!
O projeto inteiro da criação divina!
Serei supernovas, sóis e estrelas e constelações e buracos negros!

mas veja só
aqui estou
lentamente afundando de novo
em sonhos perpétuos de sucesso
lentamente esquecendo
por que, primeiramente,
tornei-me um poço de rancor.
Por que peguei caneta e papel.
Por que tenho lamentado:
para contemplar novamente,
sem nunca voar...

Sem nunca tentar.

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