quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os Meninos

Fim de tarde, estrada de terra, a poeira vermelha cobre nossas cabeças, enquanto corremos todos juntos, em uníssono, até a mangueira. As frutas são mais tenras, e as que ficam no alto da árvore, tão tentadoras, chamam nossos apetites vorazes. Nós não temos individualidade, não temos incertezas e nem contas a pagar. Somos o algum dia do futuro, somos capazes e seguros. Não temos puberdade, nem ócio. Somos energia pura.

Dormimos nas copas das árvores e dançamos tal qual macacos pequeninos. Voltamos à casa de nossos avós e comemos doces de compota. Ouvimos causos nas calçadas da vila, e voltamos no fim de tarde para nossos lares, atraídos pelo cheiro do frango sendo cozido. Existem lugares e aromas que não podemos verter ao nosso amadurecimento. Existem origens e saudades, e existe o interior do mundo e o nosso interior, trepidando como a luz de uma vela ao vento. A saudade, enfim, é coisa que pede afago.

E lá estamos nós, correndo na densa poeira vermelha, acompanhando as carroças, e panhando manga com as mãos de terra.

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