quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ensaio Sobre o Caos Original (1° peça)

Eu saí furioso, e o céu ardia em chamas, sabia que era o maior pecado que minha mãe havia cometido, quando era jovem e metia os pés pelas mãos, voltava magoada e com dores pra casa, às três e às vezes quatro da manhã, ouvia do pai um sermão e sentia um tapa, depois ia se deitar pensando na cagada que carregaria nos braços pelos próximos anos.

Nem liguei. Cruzar a rua seria a maior rapsódia homérica de minha vida. Lí tanto Nietzsch que nem sei como mantinha os olhos abertos, mas olhava a rua e pensava só em como poderia haver ali um buraco, uma hemorragia, e logo eu cairia.

Minha mãe quebrou o pau porque fuma mas não quer me ver fumando. Pra ela eu sou um, pro mundo eu guardo outro, e fui caminhando até a próxima calçada, dentro do buteco.

Com o Presidente ao meu lado, recordei Vinícius e seus amigos, o wisky escocês, o wisky nacional e bom... pra mim ali tinha de ser o Presidente mesmo. acendi um cigarro e sorri pra mim mesmo pensando em quanta bosta havia assistido na novela das oito. Que merda, acho mesmo que existem cortinas tampando a real cara de medo do mundo, acho que os pintores viam isso, acho que Munch pintou o grito vendo isso.

Se cada cabeça fosse um sol, que puxasse tudo ao redor para sua gravidade, será que absorveríamos as memórias dos que passaram por ali? Puta devaneio, eu devia estar meio chapado quando lí sobre os buracos negros. O mais provável seria que houvesse a supernova, ou explodir levando tudo, como os homens bomba.

Apaguei o cigarro, sequei o copo, devia ser cedo ainda pra caçar uma putinha.

De putas eu entendo...

Rodei a pé os bairros mais podres vendo as casas mais lindas do passado, agora enrrugadas, ou mortas, como suas donas deveriam também ser. Acho que rodei por umas duas horas e não vi mulher. Decidi voltar pra casa e ver pornografia na internet.

Mas minha mãe estava lá.... porra, achei melhor voltar pro buteco, e no caminho encontrei uns camaradas e umas mocinhas lindas. Iam para uma festinha, putaria discreta, no apê de um universitário bostão.

Lá eu tomei umas na faixa, e de repente vi o quanto meus pensamentos pulsantes tornaram-se obsoletos! Há algumas horas pensava em buracos negros e métrica de poesia, e agora ouvia qualquer coisa eletrônica e tentava comer uma garota.

Vi uma sentada, de óculos, num sofá mais de canto, e não exitei em chegar junto. Ela parecia adorável, tinha rosto inocente.

Eu era a supernova acontecendo, levei ela no papo, e logo já fiz dela meu brinquedo, no quintal da casa. Pra ela, foi sexo, um beijo e um adeus, mas pra mim foi retomar, de braços abertos, todo o caos original, o pecado de minha mãe, as camadas do meu chão, o presidente e o Vinícius.

Ela vai chegar em casa e vai pensar na cagada que fez, mas não agora. Agora ela veste a calcinha, meio envergonhada, como se eu fosse o primeiro, o violador e eterno amante, vilão de novela mexicana.

Acendi outro cigarro, e deixei pra ela a fumaça. Coitada, sou apenas um verborrágico

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