quinta-feira, 25 de junho de 2009

Escuro

Acordei de leve, e murmurei algo. Revirei. Então abri os olhos para contemplar a manhã na janela, ou pensei ter aberto o olho, porque continuava escuro. Não reconheci os objetos de meu quarto... seria noite ainda?
Tateei a parede, em busca do interruptor, e apertei-o. Nada de luz. Nenhuma luz. Parecia blecaute.
Procurei o celular no criado mudo, e constatei que a bateria tinha acabado. Não acendia. Como não havia eletricidade, deixei de lado o aparelho.
Deitei-me novamente e fechei os olhos, ou pensei ter fechado, nem sei mais. Fechei com força esses olhos, porque sentia os nervos da pele que recobria o olho, saltando como relâmpagos raros e especiais, que só a gente vê.
Mas não vi nada.
Não havia nada.Ouvi uma voz. Mamãe.
Ela entrou no quarto, mas não com lanterna ou vela, aos prantos e dizendo coisas que eu não pude compreender direito. Ela me abraçou, e eu não entendi como ele pôde ir direto até mim naquela terrível escuridão.
Mas ela estava ali. E em seguida, meu pai, que indagava "porque nós, meu Deus", de maneira desesperadora, o que me deixou um preocupado.
Será que tinham cortado a força em casa no meio da noite? Será que meu pai perdeu o emprego e tiraram a energia elétrica de casa?
Perguntei se era isso, e ninguém respondeu. Perguntei as horas, e depois de um longo período de silêncio, meu pai disse '10 da manhã".
Estranho eclipse então, eu pensei.
Mas, era difícil crer num eclipse, e então, era eu a gritar "não", "Nããão!!!"
Daí, passaram-se uns oito anos, eu acho, e a escuridão continua idêntica àquele dia. Nunca mais enxerguei, nunca mais enxergarei. Não vejo a beleza das coisas. As sinto, é verdade, mas não vejo mais nada. E sabe do que sinto mais falta? Sinto falta da cor da madeira, aquela cor calorosa, aconchegante. Curiosamente, qualquer ambiente me parece frio.
Fiquei cego da noite para o dia, sem jamais saber o motivo.
Agora estou aqui...
No enterro de meu pai, e não consigo ver seu rosto. Não vejo nada além da escuridão. Talvez isso me poupe, talvez faça sofrer mais.
Estou aqui, e, no entanto, sinto como se nunca tivesse estado antes.

Um comentário:

Satiko disse...

simplesmente: UAu.