sábado, 25 de outubro de 2008

Fim

Um sorriso amarelo se abre, mostrando um constrangido e fadigado contornonuma face torturada e tortuosa. Um meio sorriso? Os dentes se ocultam aos poucos, os dentes claros, os dentes sofrídos, frios. É uma boca seca que sorri. É um nariz que nãos sente cheiro, são ouvidos que escutam apenas zumbidos, enquanto passam os carros lá fora, enquanto o ventilador velho faz seu barulho. Falta óleo nesse ventilador, falta óleo nessa vida.

Os cabelos se fazem perdidos em círculos, grudados à testa, molhada de suor, molhando o travesseiro, molhando a cama. E os olhos parecem mortos... parece que algo levou seu espírito, deixando olhos que não brilham, a não ser por lágrimas involuntárias.

É de muito escárnio esse sorriso amarelado, é de muita dó.

O corpo resume-se a um detalhe num quarto tão abafado. Também puderá, está tudo fechado, avermelhado. A mão está pregada ao lençol. Parece medo, pavor! O que essa pessoa vÊ? O que ela deixa de ver? E se um frio lhe corre a espinha?

Pois é, o frio correu.

garganta está seca, e pede por água, mas não há água ali, não há nada ao lado da cama. Há o pó dos móveis. Testemunhas silenciosas do que aconteceu naquele quarto, os móveis estão calado para sempre! A perna as vezes formiga... as vezes...e nada mas se sente ali.

A boca continua sorrindo, mas agora toma novos contornos, pois sangra. Um sangue escuro, pútrido, mas não move o sorriso do rosto, nem as lágrimas, agora talvez com algum motivo. Detalhe é que a poeira já lhe cobriu os ossos. Detalhe é que as moscas lhe cercam, tal qual hienas. É duro o olhar franco que se desfez nesse sorriso ordinário, de quem errou, sempre errou, e finalmente paga.

A peste se alastra escurecenso o corpo, talvez até a consciência. A cólera lhe toma de súbito, ele está ofegante e como transpira, parece que lhe vaza toda a água do corpo.
A mão fina, rêmula, agarra mais forte o lençol. Mais forte, mais forte, MAIS FORTE!!!

E solta.

Não mais o sorriso sangrento, não mais as lágrimas que lavam o rosto, e nem suor.
em vez disso, o corpo torna-se sereno, assumindo pra sempre a posição em que buscava transmutar-se: um detalhe daquele quarto.

Nenhum comentário: