segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Prévia de O Caos Original - Sobre o Tempo

Silêncio
silêncio total
de repente, ouço o gelo trincar no copo
o uisque não vale nem vinte reais
e racha o gelo
e cria ecos

Silêncio
voltei o cigarro à boca
voltei a puxar a fumaça
ouvi o som de papel crepitando
dois centímetros à minha frente

Eu cheguei em casa às seis, e minha mãe tinha feito café
o cachorro não latiu, como não late nunca quando me vê
ele apenas bate o rabo entre o carro na garagem e a parede
o degrau da porta era alto demais, mas o café tinha um cheiro maravilhoso e magnético
infelizmente, não suportei a idéia de que teria de escalar aquele imenso degrau de talvez
seis centímetros

caí, fazendo um som oco no chão
será que eu estaria vazio?
certamente cansado, mas vazio?
fechei os olhos, pesados, e pisquei
o teto branco ardia

mamãe me levantou, me arrastou para o quarto
tirou meus tênis, e me colocou debaixo das cobertas
o dia estava fresco, silêncioso, cheio de cheiro de café
e eu me sentia oco

ora ora ora, dizia papai
bebeu e fumou e deve ter feito Deus sabe lá o que
ele também fumava, mas não bebia, e quanto a Deus sabe lá o que
Ele não saberia dizer o que aconteceu
eu dormi
...
eu dormi?
esse tempo todo estive dormindo?

acordei numa tarde cinza e vazia, com a chuva batendo na janela
o vento urrava e a água entrava
fechei a janela xingando o tempo
e depois, no silêncio ocioso, pairava apenas uma pergunta no ar:


"Quanto tempo eu dormi?"

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