sábado, 16 de maio de 2009

Sozinho

Eu estou, sem sombra de dúvidas, sozinho.
Não consigo mais equilibrar dor e paciência na mesma esfera como a tempos atrás. A fadiga tomou conta do meu corpo, e se fosse loucura, talvez tivesse brotado daí um resultado satisfatório.
Não sei.
Não sou.
Aí eu levanto uma velha questão que cabe a todo ser humano levantar em determinado momento de seua épica desventura pelo planeta: "Puta merda, o que eu to fazendo aqui!?"
E então cortinas vermelhas de veludo se abririam, e um mágico com uma cartola e seu bigode francês viriam até mim, e estenderiam a velha cartola preta para que eu olhasse no fundo, onde haveria de estar a resposta.
Mas não há nada disso.
Poderia também ser o ambiente de buteco onde uma estranha flerta o tempo todo. Seus olhos não tem cor exata, mas ela está sempre olhando, com seus lábios rubros de tesão. Ela chegaria até mim e diria o que eu quero ouvir. Isso! Ela iria me dar uma solução tão óbvia que eu me entregaria de corpo e alma.
Mas não.
Não.
Eu me vejo num espaço em branco, e me vejo sozinho. Nada nem ninguém me ouviriam mesmo que eu gritasse. Não há vida ali. Nada me consola!
Nem livros me distraem ou fazem indagar. Filmes não me fazem refletir sobre a questão que propõe, os jogos não me divertem, não são evasivos. As músicas não me transmitem nada, a água e o ar são sem graça, dispensáveis.
EU ESTOU COMPLETAMENTE SOZINHO!

e não suporto mais essa prisão.

Já fiz da solidão minha companheira mais útil. Mas parece que ela se mostrou minha inimiga no final. E ela parece querer cada parte do meu corpo, cada gota de suor e sangue. Estão me tomando tudo, e eu, sem estar de mãos atadas, não reajo!
Tem uma solução.
Tem algo que pode ser feito.
Ninguém saberá antes do tempo certo, e eu concluirei meu objetivo antes que percebem. se estou só, ninguém dará falta. Se estou só, posso fazer isso tranquilamente.
Chega de angústia, chega de dor terrena. Não quero mais viver aqui! Não quero mais viver. É dada a hora da partida para mim, que nunca foi capaz de concluir um desejo sequer, ou por intervenção de intrometidos, ou pela desilusão acometida.
Hora de ir embora!
Imagino se alguém vai chorar. Imagino se haverá dor no final. Imagino se existe céu e inferno.
Será que isso será respondido?
Melhor não, prefiro que seja apenas o sono dos justos, o descanso merecido. Sem fome, agonia, qualquer negatividade.
E tomara que, se alguém lembrar de mim, que esqueça logo em seguida, afinal, nunca fui nada importante. Quem sabe se seria o desperdício de um corpo saudável controlado por uma alma corrompida?
Não sei, mas não importa.
Em ultima instância, queria apenas lembrar algum dia frio abraçado a alguém com quem já fui feliz. Ou então dias sufocantemente quentes em que passeei com mamãe e vovó. Com meu tio. Quero lembrar da sensação do frio ou do calor.
Aaahhh! A vida já foi tão boa! Por que tornou-se tão sórdida?
Quando é que me destruiram? Quando foi que me destruí?
Gostaria de sentir novamente a pressão da água na hora do mergulho, sentir o gosto da maçã premiada. Queria sentir a pele se arrepiando diante do carinho. Sentir um sorriso que fosse, mísero e tímido, contudo, sincero. Queria sentir um pouco mais disso... mas agora já estou tão longe.
Longe...

Longe... na escuridão profunda...

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